e os dias vão passando
mais, menos
o café segurando as pontas dos dois lados
pra não desabar por terra qualquer esperança
apagando e-mails, delentando sistematicamente
as rebarbas que me sobram da vida
começando de vagarinho
para não aparar demais
e perder o cabelo que custou a crescer
a gente, depois de uma idade
e olha que nem é muita, há quem diga
a gente.. não se joga mais
no vazio, sem amarras
sem capacete, joelheira e proteção nos olhos
não arriscamos os dentes por uma aventura construída de areia
e às vezes
sinto essa necessidade
de quebrar xícaras e pisar nos cacos
sentir a dor que me é negada
sentir o sangue escorrer quente
e as mãos apertarem o nada
às vezes
preciso do físico para me sentir viva
e da loucura momentânea para me saber aqui
mas outras
como agora
nessa segunda insossa
de nuves cinzas
de olhos cinzas
de mãos frias
o cotidiano é tamanho
e tão sufocante
que me falta o ar pra dizer
e aí escrevo
que se não fosse por tanto
seria por menos
e por mim - aí sim
revirava do avesso do avesso do avesso
esse dia a dia pobre e parco e sujo
e fodia com a porra toda