quinta-feira, 25 de março de 2010

chá branco

quase sinto o gosto
da chuva que caiu
duas horas e minutos
atrás

quase sinto
o gosto do concreto molhado
do trem cheio
das pessoas suadas
cansadas
de tanto cotidiano
de tanta são paulo

quase sinto
ao fechar os olhos

e inalando a poluição

o cheiro de mato
o cheiro do cocô de galinha
de terra úmida
de flor de jasmin
das tulipas
moribundas da geada

quase, mas só quase
sinto junto à fumaça
e aos carros indiferentes
o cheiro da casa da vó
cheiro de pão vindo
quente!
cheiro
e som
do fogo crepitando
o fogo do conselho!
sinto cheiro dos dias
que já foram e não voltam mais

não é saudade
exatamente
é mais nostalgia
a lembrança
o presente querendo ser esquecido
por minutos
apenas

essa memória
vem
aos largos goles
pelo canudo, fino
para preservar o batom bordô
de dia nublado

dando esses largos goles,
então,
de sede
no doce e saudável
chá
branco
.
.
.
quase sinto passofundo tragável.