quase sinto o gosto
da chuva que caiu
duas horas e minutos
atrás
quase sinto
o gosto do concreto molhado
do trem cheio
das pessoas suadas
cansadas
de tanto cotidiano
de tanta são paulo
quase sinto
ao fechar os olhos
e inalando a poluição
o cheiro de mato
o cheiro do cocô de galinha
de terra úmida
de flor de jasmin
das tulipas
moribundas da geada
quase, mas só quase
sinto junto à fumaça
e aos carros indiferentes
o cheiro da casa da vó
cheiro de pão vindo
quente!
cheiro
e som
do fogo crepitando
o fogo do conselho!
sinto cheiro dos dias
que já foram e não voltam mais
não é saudade
exatamente
é mais nostalgia
a lembrança
o presente querendo ser esquecido
por minutos
apenas
essa memória
vem
aos largos goles
pelo canudo, fino
para preservar o batom bordô
de dia nublado
dando esses largos goles,
então,
de sede
no doce e saudável
chá
branco
.
.
.
quase sinto passofundo tragável.
quinta-feira, 25 de março de 2010
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