quarta-feira, 21 de março de 2012

a cerveja e a maionese

depois de curtos
rápidos
e hilários
goles de cerveja
em um happy hour íntimo
desinibido
e libertador

caminho só
por ruas desertas
que
ao invés de hostis
me soaram hospitaleiras
aconchegantes
e dóceis
são paulo?
sim.

o clima nem clima era
mas só a reflexão do meu corpo
pequeno e rápido
de botinhas
caminhando e pensando

o vento
não traía meus sentimentos
e se mantinha firme na mesma sintonia
na mesma tempertatura
que o órgão dos órgãos
a pálida e latente
de tantas pintas e pêlos finos

repirar o ar (nada) puro
dessa paulicéia
reprimida
por mim
pelo meu coração
reclamão, chato
um velho encarnecido

e estar só
comigo e meu passado
e minha alma
e vontades
e ser fiel ao mais profundo e ao mais vil
ao mais superficial
ideal
de vida
e de morte?


eu

e eu
.
.

finalmente
em casa
considerando os perigos
de estar sozinha
às onze da noite
o herói da madrugada
de ferro, alaranjado
vem me buscar e me deixa
na esquina de casa

no apartamento
tão imenso e ínfimo
ao mesmo tempo
quanto um ovo de codorna
e tudo que este poderia ter sido
de volta ao lar
com Dominique estressada
pedindo comida e carinho
e atenção

chega, Domi
já vou
calma
já vou
ração?
me deixe com a minha primeiro
sanduíche
incrementado
com picles
e maionese

empilho tudo
cuidadosa
em duas torrezinhas honestas
calmas
pão
margarina
queijo
picles
suco de maçã
não cabe?

encaixa
no queixo

cabe sim

PLÁ!

claro
e
por mais avisos de pai
e mãe
lá vou eu
com paninhos
e o vidro de maionese no chão
estraçalhado junto com minha vontade de dormir
antes da meia noite

papel-toalha
lembra de Almodóvar
e Penélope Cruz
em Volver

pano de chão
molhado
cuidado comigo
cuidado com a gata em dobro
para não ultrapassar
a barreira do pssst-passa!

limpeza
paranóia
cheiro de maionese
e todos os ovos
e os bicarbonatos e sulfatos e químicos sabe-se quais?
que poderiam ter sido
no meu prato
se foram
no azulejo branco
no taco telha

e me trouxeram de volta do balão
pra realidade
me lembrando
que amanhã
ainda
é
quarta-feira

sábado, 10 de março de 2012

sambei só

em casa
depois de algumas horas
sambando

sem acreditar
que poderia algum dia
ter a ginga da morena
longe disso - pelo menos um touch
de mulatice nessa existência albina

fui lá
descrente
e sem esperanças
depois de goles largos
da original
amarela e gelada
...sambei
como nunca
como nunca havia me visto
sambar. dançar?
fazia tempo TEMPO

o sentimento da vida
transbordando pelas têmporas
e um constante e reconfortante
sentimento de foda-se
colado em mim
to fazendo certo? foda-se
to dançando direitto? foda-se

o dobrar dos joelhos
queimando
o quadril de bailarina imóvel
por anos
-
se algum dia poderei ter esse título
-
o respirar a música
o perder-se
o encontrar-me.

minha alma
ou esse algo de essencial que sou
tão suspiros
leve, solta de tudo
livre do boteco
e pesada - ao mesmo tempo
a constante
briga
entre cérebro
e esse bater ininterrupto

os pensamentos
e os sentimentos pesados
caem no infinito do deixamos pra depois

e cedem espaço
à música
a noel
e às notas do saudosíssimo

o corpo
especialmente contorcendo-se
em um samba solitário
verdadeiro e entregue
à minha vontade
à necessidade
de mandar o mundo pra fora
colocar o sangue em segundos de passitos

dançar voltou
a ser prioridade
para minha própria
saúde mental