terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

nota a mim mesma

com um pote de sucrilhos açucarados - sublinha-se - ao lado, escrevo nessa maldita segunda-feira de carnaval. maldita menos pela falta do que fazer que pela solidão. solidão essa que eu mencionei incontáveis vezes, aquela ocre, maligna, que toma conta da alma e não me deixa fazer muita coisa. me amarra dos pés à cabeça, fico feito múmia deparando a solidão ocre. diferente da púrpura, ela só sabe o ódio, a angústia, a ansiedade. desconhece valores como carinho, compreensão, solidariedade. deus, até parece cartão de aniversário... ia falar "amor", mas não achei pertinente, visto que amor é um ato, não um valor. será?

hoje fiz poucas coisas, mas fiz bem, coisas boas de se fazer, mas hoje elas estavam difíceis. tudo parecia ter um peso fenomenal, precisava empurrar tudo, inclusive meu corpo fora da cama. do sofá cama, melhor dizendo, que, aberto, me chamou pra deitar nele e eu fui. e lá fiquei até quase duas da tarde, quando essa força descomunal, duzentas e dezenove vezes mais poderosa que eu, me sugava as energias, me puxava pro meio do sofá cama, pra parte mais macia, pro cheiro bom - aquele cheiro de dormir - no travesseiro. mas com pouca vontade - mais pra me livrar do peso na consciência de não ter feito nada o dia inteiro - levantei e fui ler. eu acho... devo ter feito qualquer coisa antes, mas o fato é que li. li ao som da chuva iminente e do ronronado da minha gata junto às minhas pernas. li em voz alta, li com o corpo, interpretei as páginas do livro como se imita alguém com muito entusiasmo. mas li pouco. li pouco, mas li bem. mas mas mas mas... sempre uma oposição, né? ao que se disse primeiro. sempre dois lados de uma situação, fato, acontecimento... sempre me contrario. uma contradição completa a pessoa, sabia? completa.

e então, depois da leitura que tinha que acontecer, amarrei o cabelo num coque baixo com o elástico que saiu da minha sapatilha cor-de-rosa de ballet. aquela que eu usei ad nausea pra dançar no grupo tanz, lá em passo fundo. aquela que eu gastei aprendendo o que é ficar bem com o próprio corpo, saber meu limites e saber que posso ir além do que achava que podia. quis lembrar desse tempo, como volta e meia faço, sozinha de cortinas fechadas. coloquei todos os fios pra trás, bem presos e lisos, e dancei. primeiro com a voz de ney matogrosso, depois ao som dos anos sessenta de brigitte bardot e, por último, vampire weekend. sem coreografia, sem uma linha definida, nada, simplesmente sentindo a música e interpretando do meu jeito.

é bom fazer algo sem roteiro, de vez em quando. ou sempre... sabe? fazer o que quiser, o que realmente quiser, somente sob tua influência e julgamento. precisei me esforçar, mas quando se chega ao ponto de entendimento da vontade própria, basicamente de saber com certeza o que se quer (o que eu acho sinceramente uma tarefa dificílima, visto que se sabe pouco, muito pouco, sobre nós mesmos) a alma atinge uma leveza indizível. mas é aquele instante, aquele segundo de lucidez extraordinária, que logo se perde no vazio, no pensamento, na tarefa, no miado, na cadeira, na guitarra, em distrações diversas. e isso que é bom, que seja raro e demande muito, porque se ele se fosse fácil e se mantivesse, cairia no ordinário e pouco importaria...

mas é isso. somente divagando por aqui, dividindo o sentimento/pensamento. que parece que podem se tornar uno. eu até diria que devem, porque se complementam... e no meu caso, ainda mais agora, com o coração confuso desse jeito...

um beijo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário